Abra bem os olhos, pois esse segredo não está registrado em nenhum lugar.
Aqui nesta região existia o Lazareto da Gamboa, onde os escravos que chegavam doentes da longa travessia do mar, de até 60 dias, eram internados em quarentena.
Imagine um prédio descuidado, onde ficaram os negros cuidados por enfermeiros. Aqui eles chegavam fracos, famintos, com doenças de pele, a bexiga inchada. Muitos tinham varíola, ou “bixiga”, enfermidade contagiosa, mas eles também padeciam de disenteria, hepatite, sarampo, escorbuto, anemia e oftalmia.
Aqueles que sobreviviam iam para um lugar muito pior: as lojas de escravos no Valongo. Os outros iam para o Cemitério dos Pretos Novos.
No começo do século 19, um alvará de regimento obrigava que os escravos fossem tratados antes de vendidos, “fazendo-os ali sustentar de alimentos frescos, lavar, vestir de roupas novas e observar por certo tempo sobre as moléstias de que costumam vir infectados”, segundo escreveu o provedor da Saúde do Rio. Em 1811, ele propôs a três grandes traficantes de escravos a construção do novo Lazareto: João Gomes Valle, José Luís Alves e João Alves de Souza Guimarães. Em troca, para cada escravo internado, eles receberiam 400 réis dos seus traficantes, segundo o historiador Júlio César Medeiros da Silva Pereira.
O antigo Lazareto era situado em uma ilha na baía de Guanabara. Mas os traficantes reclamavam do incômodo de transportá-los até o Valongo.
É provável que houvesse ainda outros lazaretos no Rio. Além disso, alguns comerciantes viviam de curar e revender os escravos mais doentes, que eram chamados de “refugos”.
Segundo o projeto Passados Presentes e o historiador Claudio Honorato, o terreno do Lazareto da Gamboa ficava atrás do monte da Saúde e até hoje pode ser avistado do alto da rua do Propósito. O prédio já não existe, mas o terreno pertence ao Banco Central do Brasil.