Chegada família real

Olhe para o mar e imagine a cena: em 8 de março de 1808, aportaram aqui, no antigo cais do Largo do Paço Imperial, 16 navios trazendo a família real portuguesa: o príncipe regente dom João VI, a sua esposa, Carlota Joaquina, seus oito filhos e a rainha Maria I, conhecida como “rainha louca”.

Com eles chegava uma gigantesca corte com cerca de 10 mil pessoas: nobres, generais e bispos da Igreja Católica, servos e empregados domésticos. Durante dias, baús, malas e sacos eram retirados dos navios, cheios de roupas finas, obras de arte, objetos furtados dos museus de Lisboa e toda a Biblioteca Real, com mais de 60 mil livros. Chegavam também todo o dinheiro do Tesouro Real e as joias da Coroa – o que, do outro lado do oceano, deixou o povo português sem um tostão.

A corte chegou depois de três meses de viagem, fugindo da iminente invasão de Lisboa pelas tropas de Napoleão, o imperador francês que sonhava em depor a monarquia portuguesa para colocar seus parentes no lugar.

Quando desembarcou no Rio, os nobres foram recebidos com pompa e circunstância. Foram alojados no centro da cidade, em casas doadas pelo vice-rei, e no antigo Convento das Carmelitas. Outras casas foram surrupiadas dos moradores do Rio. Poucos dias antes, foram marcadas com as letras “PR”, justificando que eram confiscadas para o príncipe regente. Na boca do povo, a sigla virou “Ponha-se na Rua”.

Durante todos os anos de colonização das Américas, foi a primeira vez que um monarca pisou nosso continente. A chegada da corte transformou o Brasil em sede do império português, que incluía ainda territórios na África e na Ásia, e é apontada por historiadores como o começo de fato do Brasil como nação. Também consolidou a corrupção, praticada à larga pela corte portuguesa.

Segundo o jornalista Laurentino Gomes, assim que pôs os pés no Rio, dom João ganhou de presente a Quinta da Boa Vista, a melhor casa da cidade, de um traficante de escravos. Elias Antônio Lopes virou “amigo do rei”, ganhou muito dinheiro, entrou na corte e ganhou vários títulos de nobreza. No livro 1808, Laurentino conta que, em apenas oito anos em terras brasileiras, dom João VI distribuiu mais títulos de nobreza do que em 700 anos de monarquia portuguesa: apareceram do dia para a noite 28 marqueses, 8 condes, 16 viscondes e 21 barões.

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