Em 1639, devotos de Nossa Senhora do Rosário fundaram uma confraria, que existiu na mesma época da confraria dos devotos de São Benedito, ambas fundadas por homens pretos – tanto livres como escravizados – que na época da escravidão era impedidos de frequentarem as mesmas igrejas de pessoas brancas.
De acordo com o estudo de Anderson Ribeiro, membro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos e aluno do curso de História da Universidade Estácio de Sá, inicialmente, o sucesso das irmandades entre os escravizados baseou-se no desejo de beneficiar-se de uma sepultura decente. Pertencer a uma irmandade afastava a possibilidade de ser jogado entre os detritos ou na vala comum da Santa Casa da Misericórdia, o que ocorria com a maioria dos escravizados. A Irmandade dos Homens Pretos foi um dos centros mais ativos dos Movimentos Abolicionistas e foi do seu Consistório, espaço de reunião e assembleia, que em 1822 partiu a solene procissão que foi solicitar ao Príncipe Regente Dom Pedro que ficasse no Brasil.
‘‘As irmandades de negros tendiam a multiplicar-se em torno das “nações”, que correspondem às grandes regiões do tráfico negreiro da África. As certidões de batismo dos escravos incluem necessariamente essa menção ou, para os ‘criolos’ nascidos no Brasil, a nação de suas mães. No século 18, existiu no Rio uma dúzia de associações culturais negras que exercem suas atividades na periferia imediata da cidade, ao redor das Igrejas da Lampadosa e de Santana. As Irmandades, embora estejam voltadas para populações cuidadosamente definidas, têm fins mais ou menos similares; mas para os escravos, os alforriados e os mestiços, representam uma das raras ocasiões lícitas de reunir-se entre si e constituem o lugar privilegiado de uma construção identitária, em torno das ‘nações’ ou de ‘etnias’ no mais das vezes forjadas na escravidão’’, relata Anderson Ribeiro.