O Rio de Janeiro era, no século 19, umas das cidades mais negras do mundo. E o trecho mais agitado por essa migração compulsória era a rua do Valongo, hoje Camerino. Lojas de escravos tomavam toda a rua.
Logo após a escravidão, a região foi chamada de Pequena África pelo famoso artista e compositor Heitor dos Prazeres, no início do século 20.
Para o pesquisador Rogério Jordão, a Prefeitura do Rio de Janeiro se comporta de maneira paradoxal ao cuidar da memória: “É como se a prefeitura praticasse uma estranha dinâmica de lembrar esquecendo-se”, diz. O pesquisador aponta para o Museu de Arte do Rio e Museu do Amanhã – erguidos com investimentos de mais de R$ 388 milhões e considerados símbolos do Projeto Porto Maravilha. Os dois museus começaram a ser construídos no mesmo período da redescoberta do Cais do Valongo e foram inaugurados. Mas os milhares de objetos de matriz africana ainda não foram exibidos para o público. São peças de barro, contas, monjolos, búzios, louças quebradas, ocutá (uma pedra que atrai o orixá), que continuam guardadas em um galpão da Gamboa, longe dos olhos do público.
A prefeitura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) inscreveram o Cais do Valongo, a Pedra do Sal e o Cemitério dos Pretos Novos como Patrimônio da Humanidade na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A candidatura foi acolhida em 1 de março de 2016.