Feche bem os olhos porque no antigo prédio do Ministério da Justiça, hoje a sede da Polícia Federal, aconteceu uma coisa horrível no dia 16 de agosto de 1964.
No quarto andar do prédio, Dilermando Melo do Nascimento, economista e integrante da Sudene e ex-diretor da Divisão do Material do Ministério da Justiça, foi morto no intervalo de um interrogatório a que estava sendo submetido, sob torturas. Há controvérsia se ele morreu aqui neste local ou na Rua México, segundo o que diz o seu filho.
Ele havia sido pracinha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e lutado na Segunda Guerra Mundial, na Itália. Era investigado em um Inquérito Policial Militar (IPM) e passara toda a noite sendo interrogado pelo capitão de mar e guerra Correia Pinto.
Jorge Thadeu Melo do Nascimento, filho de Dilermano, em 3 de janeiro de 1995, prestou depoimento ao GTNM/RJ, declarando que, no dia 14 de agosto de 1964, às 20h, quando tinha 15 anos de idade, dois militares à paisana foram a sua casa, convidando-o para visitar seu pai onde se encontrava preso desde o dia 12 de agosto. Ao chegar lá, o Capitão de Mar e Guerra Correia Pinto o obrigou a sentar e não o deixou ver seu pai, ameaçando-o: “Se seu pai não confessar, não sairá vivo daqui.” e “Se ele não confessar, quem vai pagar por tudo é a família.” Essas ameaças – ao que lhe pareceu – foram dirigidas a seu pai, que deveria estar ouvindo e sabendo da presença do filho. No dia seguinte, 15 de agosto de 1964, às 9h30 da manhã, soube que seu pai estava morto.
A versão oficial é que se tratou de um homicídio. O jornal Última Hora publicou o seguinte: “Segundo o levantamento pericial, Dilermando […] lia um jornal sentado numa cadeira próximo à janela, no 4º andar. Viu a porta abrir-se e deparou o oficial Correia Pinto. Correu e fechou-a com violência. Quando a abriram, os oficiais – alegam – viram a janela aberta e a sala vazia”. Os militares disseram que Dilermando ainda teve tempo de escrever um bilhete de despedida: “Basta de tortura mental e desmoralização”.
A esposa de Dilermando, Natália Oliveira do Nascimento, afirmou que foi obrigada a assinar uma declaração admitindo o suicídio do marido. Ela denunciou que o bilhete suicida era falso.
Hoje, Dilermando é reconhecido como uma vítima da ditadura militar.
Imagine essa cena e se pergunte: por que você não sabe disso?
Porque Dilermando é mais um espectro escondido da nossa história. Em 1964, os jornais eram censurados e ninguém podia investigar a fundo o que estava por trás de uma morte tão horrenda bem no centro do Rio de Janeiro.