A descoberta de um cemitério de jovens escravos

Filha de um português com uma espanhola, a carioca Ana Maria de la Merced Guimarães sempre demonstrou muito interesse pelo passado. Não tinha a menor ideia de como sua vida mudaria após a compra de uma casa construída em 1866 na rua Pedro Ernesto, no bairro da Gamboa.

Em 1996, ela e o marido estavam às voltas com uma reforma no imóvel onde morariam com três filhas. Um dia, Ana Maria Merced recebeu um telefonema em seu trabalho. Escutou, atônita, que os pedreiros da obra, ao cavar um buraco, se depararam com um punhado de ossos.

Ela soube então que havia um sítio arqueológico sob seus pés. Até aquele momento, não existia nenhuma referência material ao Cemitério dos Pretos Novos, que servira para sepultar os escravos vindos da África que morriam quando o navio negreiro já estava na baía de Guanabara, ou que faleciam após o desembarque. De repente, a casa que escolhera para morar com a família passou a abrigar constantemente seis pessoas, entre arqueólogos e técnicos de escavação.

Vinte e oito esqueletos tiveram seus ossos reunidos e pesquisados. Os mortos tinham idade entre 3 e 25 anos e eram de ambos os sexos.

Mais de 6 mil escravos foram enterrados ali de 1824 a 1830, segundo registros históricos da Igreja de Santa Rita.

Em seu livro À flor da terra: o Cemitério dos Pretos Novos no Rio de Janeiro, o historiador Júlio Cesar Medeiros conta que os cadáveres eram enterrados a apenas um palmo de profundidade. Ele diz que existem mais corpos enterrados na área. “Digo isso porque só calculei o número de enterros no cemitério em um período bem curto, com os registros do livro de óbitos da freguesia de Santa Rita, de 1824 a 1830.”

O presidente da Cdurp, Alberto Silva, afirmou em entrevista à Pública que as casas das ruas Pedro Ernesto, Leôncio de Albuquerque e do Propósito também estão na área do cemitério. Essas áreas nunca foram escavadas.

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