Feche os olhos e imagine a animada casa da Tia Ciata, onde os primeiros sambas cariocas foram batucados! Hilária Batista de Almeida nasceu em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, em 1854, e veio para o Rio com 22 anos, quando o Brasil ainda estava na época imperial. Ela, já iniciada no candomblé em Salvador, era filha de Oxum. Aqui no Rio, virou quituteira. Vendia comidas baianas na rua Sete de Setembro, sempre paramentada com suas vestes brancas, o turbante e as pulseiras nas cores dos orixás.
Segundo o historiador Cláudio Humberto, a primeira casa de Tia Ciata ficava na rua Barão de São Félix, onde estava também o terreiro de João Alabá, onde ela era Iyakekerê, ou mãe pequena, a segunda pessoa mais importante.
Na sua casa, todos os fins de semana Tia Ciata recebia com outras baianas e baianos negros recém-libertos e trabalhadores para os famosos pagodes, que eram festas dançantes. Foi aqui que, segundo alguns historiadores, foi criado o primeiro samba gravado em disco, o que ocorreu em 1916, Pelo telefone, uma composição de Donga e Mauro de Almeida.
Claro que o grupo de Tia Ciata não estava sozinho, mas colaborava com tradições já existentes e com outros grupos recém-chegados, como as folias de reis existentes na corte. Assim, como aponta o historiador Thiago de Melo Gomes, o carnaval popular do fim do século 19 foi uma criação coletiva mais ampla.
Como uma das mulheres mais influentes no nascimento do samba carioca, as bênçãos da Tia Ciata ainda reverberam nas ruas do Rio de Janeiro, bem aqui na área portuária.