Cemitério no Largo de Santa Rita

Abra os olhos e repare nesta igrejinha e nesta praça. Aqui ficava o Largo de Santa Rita, onde existiu o primeiro cemitério que recebia os negros que chegavam mortos da longa travessia pelo mar. Eram enterrados aqui mesmo, perto desta igrejinha.

Os negros que morriam depois de serem expostos no mercado na rua Direita, hoje rua Primeiro de Março, também eram enterrados aqui. Enterrados, na verdade, não: eram empilhados em uma vala e ficavam expostos à luz do sol.

Segundo o historiador Júlio César Medeiros Pereira, esse tipo de sepultamento foi um dos motivos para o vice-rei, o marquês de Lavradio, proibir os enterros na terra da igreja e determinar a criação de um novo cemitério, na região do Valongo, que ficava fora dos contornos da cidade. Ali perto ficava o mercado de escravos. O marquês chegou a dizer que os escravizados não sairiam do Valongo “nem depois de mortos”.

A igreja continuou administrando o novo cemitério, e os enterros sendo feitos do mesmo jeito. Em 25 de agosto de 1826, o traficante Miguel F. Gomes Filho mandou enterrar dez escravos em um só dia. Todos foram jogados juntos, na vala, uns sobre os outros. Eram escravos vindos de Benguela, em Angola, e morreram de varíola. O barco em que vieram saiu da África com 559 escravos e chegou ao Rio de Janeiro em 21 de novembro de 1825. Os documentos do barco, examinados pelo historiador Júlio César mostram que 16 escravos morreram na travessia do Atlântico.

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