No fim da tarde da sexta-feira, dia 13 de março de 1964, mais de 150 mil pessoas foram assistir ao discurso do presidente João Goulart na praça Cristiano Otoni, ao lado da Central do Brasil. O Comício da Central, como o evento ficou conhecido, tinha como objetivo divulgar as reformas de base defendidas pelo governo federal. A ideia de Jango era que as reformas transformassem toda a sociedade brasileira, passando ‘‘não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática’’, disse o presidente no discurso. O medo de uma revolução comunista, que para os militares era incentivada pelo governo de Jango, foi o estopim para o golpe militar que ocorreria no dia 1o de abril, dias depois do comício.
As notícias de São Paulo indicavam que os setores conservadores do país não engoliram o discurso do presidente. ‘‘Senhoras paulistas rezavam um terço nos degraus da Catedral, na Praça da Sé, enquanto um alto-falante – posteriormente silenciado pelo DOPS – retransmitia a todo volume o comício na Guanabara. As senhoras pediam proteção a Deus contra a ameaça comunista, no Brasil, e entre elas figurava a esposa do governador da Bahia’’, diz reportagem do Jornal do Brasil. Já a outra notícia afirma que o governador de São Paulo Ademar de Barros ‘‘vê plano de agitação com o comício e compra novo travesseiro para dormir bem’’. ‘Temos verificado que há uma organização muito forte a serviço do comunismo, que pretende subverter a ordem, a vai provocar o caos econômico’, disse o governador’’.
Duas semanas depois do evento, a revolta dos marinheiros agravou a situação política brasileira. Eles pediam melhores condições para os militares e apoio às reformas de base de Goulart. No dia 27, os líderes do movimento foram presos pela cúpula militar. Para solucionar o problema, Jango anistiou os marinheiros, deixando os demais militares insatisfeitos com a sua decisão. A tensão política culminou com o refúgio do presidente e com o golpe militar.