Cortiço Cabeça de porco

Atenção! Feche os olhos e abra o nariz para sentir o cheiro que emanava do maior cortiço carioca do começo do século 20, o Cabeça-de-Porco.

O cortiço funcionava num intrincado conjunto de casas, coladas umas às outras, que ocupava quase toda a rua Barão de São Félix, margeando o morro da Providência. À sua entrada, existia um grande portal em arcada que tinha em cima uma estátua de uma cabeça de porco. Daí vem o nome, usado durante muitas décadas para denominar todos os cortiços. Era um verdadeiro labirinto arquitetônico que hospedava entre 500 e 2 mil famílias, ninguém sabe ao certo.

Eram ex-escravos, imigrantes pobres, soldados, estivadores, velhos doentes e todo tipo de pessoas sem condições de ter uma casa melhor no Rio de Janeiro. Ali viviam em meio a animais domésticos, cocheiras de animais de carga e de criação. O abandono do poder público virou caso de polícia quando a prefeitura do Rio considerou o local “insalubre”.

No início da noite de 26 de janeiro de 1893, o então prefeito do Distrito Federal, Barata Ribeiro, determinou que a polícia ocupasse o seu maior cortiço.

Às sete e meia, uma tropa do 1o Batalhão de Infantaria invadiu a estalagem e proibiu que qualquer um entrasse ou saísse de lá. Ao mesmo tempo, a cavalaria policial tomou as ruas transversais, e outro grupo de policiais subiu o morro, fechando o cerco para garantir a expulsão dos moradores.

Os moradores não tiveram nem tempo de retirar seus pertences. Mulheres e crianças agarraram móveis, roupas e animais, e logo o conjunto de casinhas começou a ser demolido. O desmonte foi tão rápido e tão violento que virou notícia em todos os jornais.

O jornalista Ângelo Agostini, da Revista Ilustrada, ironizou a demolição: “Quem suporia que uma barata fosse capaz de devorar uma cabeça de porco em menos de 48 horas? Pois devorou-a alegremente, com ossos, pele e carne, sem deixar vestígios”.

Aos pobres moradores, sem ter para onde ir, Barata Ribeiro permitiu por decreto que usassem as tábuas que sobraram para construir moradias no morro ali ao lado – o morro da Providência.

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