O controle das ruas do Rio de Janeiro entre 1850 a 1890 era dividido entre dois grupos de capoeiras, as maltas, que repartiam o domínio das zonas urbanas e rurais da cidade para a realização de serviços particulares e políticos. Um dos grupos era a malta Nagóa que teve em sua formação inicial africanos e baianos e o outro foi formado por uma tradição nativa, ‘crioula’, ligada aos escravos nascidos no Brasil, a Guaiamum.
Os Guayamus se concentravam nas áreas residências e no centro da Corte Imperial por executar serviços no comércio e nas casas da elite urbana. As maltas do grupo Nagóa habitavam em áreas de chácaras e grandes sítios que ocupavam a parte rural da cidade e na região portuária, já que prestavam serviços como ‘‘negros de ganho’’ no centro. O domínio se estendia da região do Glória, com o grupo ‘‘ Flor da gente’’ até os limites do Campo do Santana, com o ‘‘Cadeira da senhora’’, liderada por Manoel Preto. Segundo o historiador Carlos Eugênio Líbano Soares, em 1888, foram presos integrantes da malta Cadeira da senhora, formado na época por maioria negra entre 15 e 20 anos. Dos 33 integrantes presos, 23 eram “pretos”, seis “pardos” e quatro eram “brancos”.
O Campo de Santana foi um importante ponto de referência para os moradores negros da região portuária. Naquela época, a capela em devoção à Sant’Ana, edificada em 1735 para abrigar crioulos e soldados do regimento dos pardos, deu o nome a toda a região. No início do século 19, com os aterros, o campo passou a ser um local-chave de movimentação dos trabalhadores escravos e libertos nos serviços de transporte, carga e lavagem de roupas, no “chafariz das lavadeiras”.