Mercado de escravos na rua Direita

Feche os olhos como muitas gerações fecharam durante séculos. A rua 1o de Março, antiga rua Direita, foi o lugar do primeiro mercado de africanos escravizados no Rio de Janeiro.

Há poucos registros sobre esse mercado, já que há séculos essa é uma história que se tenta apagar. Assim que desembarcavam na praia do Peixe, os escravos, famélicos e castigados, eram exibidos em casas ao longo desta rua, para serem adquiridos por senhores de engenho e membros da corte.

Ainda não havia nenhuma regulação desse comércio de gente; então, cada casa na rua Direita fazia seus leilões em uma hora diferente. Os negros sadios eram vendidos logo para os ricos membros do corte; demorava um pouco mais para negociar os doentes. Isso causou uma reclamação formal dos vereadores ao rei de Portugal em 1722, segundo estudo do historiador Júlio César Medeiros da Silva Pereira, pois os senhores de engenho e lavradores não conseguiam comprar os escravos que desejavam e ficavam nas mãos dos “atravessadores”, brancos pobres modestos que tratavam as doenças dos escravizados para revendê-los.

O marquês de Lavradio descreveu o mercado da rua Direita quando ocupou o cargo de vice-rei por volta de 1769:

“Havia […] nesta cidade o terrível costume de, tão logo os negros desembarcarem no porto vindos da costa africana, entrar na cidade através das principais vias públicas, não apenas carregados de inúmeras doenças, mas nus […] e fazem tudo que a natureza sugeria no meio da rua”.

Ele decidiu afastar o mercado do centro da cidade, assim como os atravessadores e mercadores. Em 1774, uma nova legislação levou o mercado para o Valongo, atual rua do Camerino, organizando esse comércio – e, principalmente, afastando a triste visão dos demais moradores e visitantes do Rio.

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