O prédio de estrutura sombria e em estado de degradação na rua da Relação, número 40, traz lembranças dolorosas a diversos militantes que ficaram presos no local durante a ditadura militar no Brasil. O edifício foi sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), um dos principais órgãos de perseguição política, prisão, tortura, morte e desaparecimento forçado de pessoas durante o regime militar. Reportagem da BBC mostra que entidades de direitos humanos e ex-detentos fazem campanha para que seja transformado em um centro de memória.
O imóvel, em estilo eclético, europeu foi inaugurado em 1910 para sediar a Repartição Central de Polícia. Antes de ser usado como local de “entrada” para a aterradora rotina de torturas durante a ditadura – dali os presos eram enviados para o Doi-Codi, na Tijuca – o prédio serviu para repressão de outros movimentos políticos considerados “subversivos” em diversos períodos da história do Brasil.
Nos primeiros anos, foi centro de perseguição aos pobres e negros, à capoeira, às religiões afro-brasileiras e à “vadiagem” – um negro podia ser preso apenas por andar na rua sem fazer nada.
No Estado Novo, o prédio foi sede da Delegacia Especial de Segurança Política e Social (Desps) e do aparato de repressão do governo Getúlio Vargas.
A reportagem da BBC entrevistou Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, criada em 2012, com o objetivo de investigar os crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante os regimes ditatoriais. Damous disse que em outros países espaços usados para tortura e repressão são transformados em centros de memória, mas conclui que no Brasil a história é outra: ‘‘É um país de apagamento de rastros. Esconde a história da escravidão, da Guerra do Paraguai, do Estado Novo, da ditadura militar. É um país que procura não ter memória”.