O furto da coisa pública mais pesada de todos os tempos foi o de seis vigas de aço: cinco de 40 metros de altura por 6 metros de largura e uma de 25 metros de comprimento por 6 metros de espessura. As seis vigas somavam mais de 110 toneladas e ajudavam a sustentar o Elevado da Perimetral, no Rio de Janeiro, junto com outras centenas de vigas parecidas. Seu valor era de cerca de R$ 90 mil.
Ninguém, até agora, sabe ao certo o dia em que elas foram furtadas da capital fluminense em 2013. Pior: como as peças, a investigação sumiu.
A Perimetral morreu em 2014. Mas seu espectro continua a rondar o imaginário carioca porque o crime das seis vigas até hoje não foi esclarecido.
Apelidada de “monstrengo”, sua forma aterrorizante proporcionava uma ligação direta à avenida Brasil, que corta 26 bairros das zonas norte e oeste, e dali deixava o motorista no caminho do Aeroporto Tom Jobim. Seus tentáculos suspensos alcançavam a ponte Rio-Niterói, o Aeroporto Santos Dumont e, contornando o litoral, levavam à zona sul, desafogando o tráfego de quem vinha da zona norte, dos municípios vizinhos e, sobretudo, do centro.
Essa estrutura gigantesca foi derrubada por ser considerada uma afronta à estética em um lugar turístico. Enquanto isso, a pergunta não cala. Como é que as seis vigas mais altas que alguns prédios da cidade, cujo metal nobre (denominado cortem, uma mistura de aço, nióbio e cromo) tem durabilidade de até quatro séculos, foram levadas?
Leonildo de Assis, dono de três caminhões que ficam num precário estacionamento a menos de 100 metros do terreno onde as vigas foram roubadas, é taxativo: “As vigas saíram daqui recortadas. Havia equipe com guindaste e maçarico trabalhando à noite e de madrugada com holofotes”, diz, “Esse muro só apareceu depois do crime”, completa, apontando para um muro que agora cerca o terreno, sem conter a gargalhada.
Assis recorda que muitos motoristas de caminhões de pequeno porte foram parados pela polícia.
“Todo mundo aqui sabe que o roubo das vigas só pode ter sido feito com empresas com guindaste, maçarico e pelo menos três caminhões de 20 metros de comprimento. A polícia nos perturbou muito naquela época, em vez de investigar somente quem tem equipamento para fazer um negócio tão cara de pau.”
Assim como as vigas, o inquérito que investiga as responsabilidades também sumiu.