O Porto Maravilha é negro

No começo de 2011, as obras do projeto de renovação do território portuário abriram um pedaço de terra por muitos anos enterrado na rua Barão de Tefé: o Cais do Valongo, com seu calçamento de pé de moleque – técnica construtiva do Brasil Colônia, com pedras arredondadas de rios acomodadas sobre a terra batida.

Os seixos irregulares estavam sob outra camada, mais à moda do Brasil Império, com conjuntos de blocos de granitos empilhados para receber, em 1843, a imperatriz Teresa Cristina, então futura esposa de dom Pedro II.

Por cima desse revestimento, havia ainda o aterro planejado pelo prefeito Pereira Passos no início do século 20, que pôs fim à memória do passado imperial. E escondeu também o originário holocausto brasileiro.

O Cais do Valongo foi o maior porto negreiro das Américas e, segundo o historiador Manolo Florentino, esteve em atividade nas últimas décadas do século 18 até final de 1830. Nele desembarcaram mais de 700 mil escravos, vindos, sobretudo, do Congo e de Angola. O Valongo foi o ponto de convergência de 7% de todos os cerca de 10,7 milhões de escravos traficados para o nosso continente. Pelo menos mais 700 mil foram traficados para outros pontos do litoral do estado do Rio de Janeiro.

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