Abra os olhos, pois aqui onde hoje passa o animado bloco Prata Preta durante o Carnaval, foi o local de uma verdadeira revolta popular, a Revolta da Vacina.
Em 1904, a Praça da Harmonia foi palco de uma das mais violentas revoltas populares do século 20. Os moradores desta área da cidade montaram barricadas para expulsar o exército de perto das suas casas.
Tudo porque o governo federal publicou uma lei que tornava obrigatória a vacinação contra varíola. Sem explicar ao povo do que se tratava, os agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas à força, provocando revolta.
Então, entre os dias 10 e 16 de novembro, a população foi às ruas, e o Rio de Janeiro virou um cenário de guerra. O jornal Gazeta de Notícias descreveu assim a cena: “Tiros, brigas, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados às pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz”.
Horácio José da Silva, o Prata Preta, era um capoeirista e estivador que ficou do lado do povo. Ajudou a formar a barricada de Porto Arthur, criando uma mini-cidade onde o exército não podia entrar.
Apenas no dia 16 de novembro a revolta foi contida. Mas primeiro, o governo voltou atrás na sua decisão: a vacina não era mais obrigatória.
A rebelião foi contida, deixando 30 mortos e 110 feridos.
Depois, foi decretado Estado de Sítio na cidade, e muitos dos líderes foram presos e enviados para o Acre em punição. Prata Preta foi um deles.
Em 2004, quando a Revolta da Vacina completou 100 anos, foi fundado o Cordão do Prata Preta, que homenageia o estivador e sai todo carnaval aqui da Praça, desfilando pelas ruas e ladeiras do bairro da Saúde.