Raul Amaro Nin Ferreira foi preso em uma blitz quando voltava de uma festa com os amigos e levado para o Dops no dia 1 de agosto de 1971, nos “Anos de Chumbo”, o período mais repressivo da ditadura militar no Brasil. O recém formado engenheiro colaborava com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o Mr8, contribuia para o jornal do grupo, fazia doações em dinheiro e escondia alguns membros em sua casa. No dia 2 de agosto, Raul saiu do Dops para o centro de prisão e tortura do exército o Doi-Codi e foi torturado por dois dias no local, a ponto de ser levado para o Hospital Geral do Exército, onde passou por pelo menos mais duas sessões de tortura antes de morrer, no dia 12 de agosto.
Mais de 40 anos foi preciso para descobrir a verdade sobre as circunstâncias da morte de Raul Amaro. Em 31 de agosto de 1982, Mariana Lanari Nin Ferreira, mãe de Raul, conseguiu que a União fosse condenada em primeira instância pela morte do filho, “queria apenas que o Estado reconhecesse que errou, torturou e matou meu filho, para que isso jamais aconteça novamente no Brasil”, falou à época. Depois de longo trabalho, os sobrinhos de Raul Amaro, Felipe Carvalho Nin Ferreira e Raul Carvalho Nin Ferreira, e Marcelo Zelic, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, consolidaram em 2013 um relatório com os detalhes da histórias de Raul. A pesquisa fez ampliar a lista de 3 pessoas sem nome responsáveis pela morte, para 17 nomes de agentes do estado implicados diretamente na prisão ilegal e assassinato sob tortura de Raul Amaro.
‘‘Na pesquisa que nós fizemos, tendo acesso a documentos que estavam no Arquivo Nacional e no Arquivo Público do Estado do Rio, descobrimos que a última tortura e derradeira foi feita por agentes do Dops dentro do Hospital do Exército no dia 11 de agosto. O caso dele mostra como esses diversos órgãos de repressão política do período da ditadura funcionavam de forma conjunta’’, disse Felipe Nin à Agência Pública.
Felipe faz parte do Movimento Ocupa Dops, um coletivo constituído para campanha de transformação do prédio do antigo Dops em um espaço de memória e resistência. Na época em que seu tio foi preso, funcionava no prédio o setor de inteligência da polícia, tudo que envolvia perseguição política, agentes infiltrados nas instituições públicas e em universidades, censura às músicas e aos filmes passavam pelo Dops, além de servir também como triagem de presos. ‘‘Falamos da repressão política não só na ditadura, o Dops foi espaço de repressão na Era Vargas e em período anterior que teve como alvo os negros. Queremos que o espaço seja um centro de referência de direitos humanos, queremos ressignificar o prédio. A ideia é que além de ser um memorial, abrigue também instituições de direitos humanos que não têm espaço pra atuar e que possam trabalhar juntas em articulação’’, explica Felipe.
O edifício, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) por seu valor histórico, pertence ao estado e ainda é administrado pela Polícia Civil, mas está parado desde 2008 com a estrutura prejudicada.